Crise? Volkswagen interrompe produção da Nova Kombi

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Depois de investir bilhões na eletrificação, a Volkswagen está enfrentando seu primeiro grande obstáculo. A marca alemã decidiu suspender por uma semana a produção do ID. Buzz e do Multivan na fábrica de Hanover, além de reduzir o ritmo em Zwickau e Dresden. O motivo oficial é “adaptação às condições de mercado”, mas na prática isso significa vendas abaixo do esperado.

Volkswagen ID. Buzz

O ID. Buzz, que nasceu para ser o símbolo moderno do clássico Microbus, acabou se tornando o retrato das dificuldades do mercado europeu de carros elétricos. A promessa de uma “nova era elétrica” esbarrou em um cenário cada vez mais competitivo e cheio de incertezas.

Estoques altos e compradores cautelosos

A Volkswagen montou toda a estrutura de Hanover para produzir milhares de unidades do ID. Buzz e do Multivan por semana. Só que o plano não saiu como o esperado: os estoques cresceram e as concessionárias estão cheias, já que muitos consumidores estão hesitando em investir em vans elétricas caras.

De 20 a 24 de outubro, as linhas de montagem vão parar enquanto a empresa reavalia a estratégia. Segundo a própria VW, trata-se de uma “adaptação às novas condições do mercado” — o que, em outras palavras, quer dizer demanda menor por elétricos.

Os números confirmam a tendência. Dados da Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis mostram que apenas 16% das vendas de novos carros são totalmente elétricos, enquanto os híbridos já chegam a 37%. Em resumo: o público até gosta da ideia dos EVs, mas quando o preço e a falta de infraestrutura entram na conta, os híbridos acabam levando vantagem.

De vitrine tecnológica a problema estratégico

Quando o ID. Buzz foi lançado, a expectativa era alta. O modelo unia nostalgia e tecnologia, com visual simpático, condução silenciosa e apelo familiar. No entanto, as vendas ficaram concentradas no norte da Europa, e o lançamento nos Estados Unidos decepcionou pelo preço alto e pela autonomia modesta.

Na Alemanha, o cenário também não é dos melhores. Modelos da mesma plataforma — como ID.4 e ID.7 — enfrentam forte concorrência de marcas chinesas como BYD e MG, que oferecem elétricos mais baratos. Ao mesmo tempo, a Tesla segue cortando preços, o que torna difícil para a Volkswagen competir sem sacrificar suas margens.

Para piorar, tarifas sobre exportações para os EUA reduziram ainda mais a rentabilidade dos modelos menores. A própria montadora já cancelou o lançamento do ID.7 no mercado americano, citando o “ambiente desafiador para veículos elétricos”.

O efeito dominó na indústria europeia

A pausa da Volkswagen faz parte de um movimento mais amplo. Stellantis desacelerou a produção de elétricos da Fiat e Peugeot, Mercedes-Benz reduziu turnos nas fábricas da linha EQ e até a BMW vem apostando novamente nos híbridos plug-in.

No caso da VW, o impacto é simbólico. Em 2020, a marca transformou totalmente a planta de Zwickau para produzir apenas elétricos, encerrando 116 anos de motores a combustão. Agora, enfrenta semanas mais curtas de trabalho e dias de paralisação — um golpe na confiança da Europa em sua transição verde.

O problema é que infraestrutura e economia não acompanharam as metas ambientais. No sul da Europa, os pontos de recarga ainda são escassos, a energia ficou mais cara e o consumidor médio prefere esperar por soluções mais acessíveis.

A pausa no ID. Buzz mostra que o “boom elétrico” europeu perdeu força. O entusiasmo inicial deu lugar a uma fase de ajustes e cautela. A Volkswagen, que se apresentou como líder da revolução elétrica, agora precisa lidar com o lado real do mercado: preços altos, redes de recarga insuficientes e consumidores mais exigentes.

Os próximos anos vão revelar se essa pausa é apenas um freio momentâneo ou o início de uma reviravolta estratégica, com foco renovado em híbridos e elétricos mais acessíveis. Uma coisa é certa — o “buzz” em torno do ID. Buzz já não é mais o mesmo.